Drenagem Urbana

Ao contrário do que a maioria pensa, o saneamento básico não consiste em um “tripé” de atividades, os quais são amplamente conhecidos e discutidos até pelos leigos: abastecimento de água potável, tratamento de esgoto e limpeza urbana.

Há um quarto componente de importantíssima função social, ambiental e até mesmo econômica, que é o da drenagem urbana. Drenagem Urbana é a gestão das águas pluviais (chuvas) por intermédio do emprego de tecnologias, infraestrutura e serviços que destinam e tratam essas águas sem prejuízo social e econômico.

Muitas vezes negligenciado, muito provavelmente por não incomodar durante todo o ano, ao contrário do lixo e do esgoto ao céu aberto, a drenagem ganha status de segundo plano quando falamos de saneamento.

Até faz sentido: quem vive sem água potável? Ademais, conviver com os vetores de doenças se proliferando oriundos de um lixão em uma comunidade ou ver crianças brincando em ruas tomadas de esgoto não é algo agradável de se pensar/conviver, correto? Se fôssemos pensar em uma escala de prioridades, de fato, a drenagem urbana tem 1 degrau a menos de importância.

Mas, e quando chega o verão – e ele sempre chega – e temos todos aqueles desastres que nos custam vidas e patrimônios? Sem contar o grandessíssimo inconveniente do exponencial aumento no trânsito da cidade por conta das enchentes ou deslizamentos que fecham ou destroem vias.

O verão sempre chega e, com ele, a estação das chuvas.

Chuvas fortes, torrenciais, ou apenas “chuvas de verão”. E com elas, aquela listinha indesejada que nos deparamos anualmente:

Inundações;
Deslizamentos de terra;
Queda de casas;
Carros destruídos;
Vias interrompidas;
Pessoas transitando pelo esgoto;
Possibilidade de surtos de doenças;
Super lotação nos hospitais;
Mortes

Todo ano isso acontece. E sim, há um motivo para o saneamento ser, necessariamente, conceituado pela Lei Federal como um “conjunto de serviços, infraestruturas e instalações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais urbanas.”

Deste modo, é necessário que todo esse conjunto de serviços e infraestruturas funcionem plenamente, dentro do possível, para que juntos atinjam o objetivo de fornecer qualidade de vida para a população.

Impermeabilidade das ruas x Enchentes rotineiras

A construção das cidades se deu em um espaço que antes era natural. O ciclo da água é frequentemente obstaculizado pelo asfalto das ruas, fazendo com que a água não penetre no solo, formando os lençóis freáticos.

Com isso, o escoamento que se daria de forma muito menos impactante abaixo do solo é feito superficialmente, acarretando em diversas situações extremamente desagradáveis para a sociedade.

A correta e eficiente drenagem urbana é fundamental para proteger o patrimônio e a qualidade de vida da população.

Com as mudanças climáticas aliadas ao crescimento populacional, uma das vertentes mais debatidas é o aumento de chuvas de alta intensidade e duração, que representam um perigo eminente para as cidades.

Portanto, é preciso um planejamento urbano mais coerente com a realidade, onde o saneamento básico seja contemplado em todas as suas vertentes, incluindo aí a drenagem urbana, que deverá, a cada dia que passa, ganhar mais e mais importância.

Drenagem Urbana de Águas Pluviais

Uma série de dispositivos são estruturados de modo a colher, armazenar, transportar e dispor as águas das chuvas de volta para o seu ciclo natural, que é encaminhá-la para as bacias hidrográficas e mares.

A pavimentação das ruas, as sarjetas, as bocas de lobo, galerias, tubulações, valas, rios retificados, dentre outros, são componentes do sistema de drenagem urbano.

É importantíssimo que se destine recursos orçamentários suficientes para a drenagem urbana pois, por exemplo, precisa-se de coletores voltados unicamente para a condução das águas pluviais, sem misturar com o esgotamento sanitário.

Desta forma, impede-se que o esgoto das residências se destine, juntamente com as águas das chuvas, para os corpos d’água. Você com certeza já viu rios e mares poluídos por esgoto, não é mesmo? Isso é um grande exemplo da má gestão do saneamento na cidade.

Conceitos importantes relacionados a drenagem

Afinal de contas, qual a diferença entre alagamento, enchente e inundação? Aliás, há diferença?

A resposta é sim. Apesar de rotineiramente as pessoas falarem como se fosse tudo a mesma coisa, há uma diferença conceitual e na prática entre essas palavras.

Logo, podemos conceituar alagamento como sendo um acúmulo de água (geralmente por problemas de drenagem) em determinado local, causando grandes transtornos viários e de trânsito, mas nem tanto assim à saúde ou ao patrimônio material. Desta forma, o alagamento é algo pontual. Por isso, inclusive, que se fala muito em “pontos de alagamento” quando há chuvas intensas.

Um rio costuma possuir dois leitos, sendo um bem maior que o outro. O menor está dentro da área do maior. Enchente é quando o rio se encontra cheio até sua cota máxima, ou seja, até o leito maior, mas sem transbordar. O problema é o “desordenamento” urbano, que permite a construção de casas nesse leito maior.

O que nos leva direto ao nosso último conceito, que é a inundação. Está acontece após a enchente do rio, sendo o transbordamento dessa água para as áreas adjacentes. Resultado: impactos e danos diretos na qualidade de vida das pessoas e no patrimônio.

A diferenciação desses conceitos nos leva a focalizar melhor nas causas e soluções desses problemas.

Enchente é um problema puramente de uso e ocupação do solo. Alagamento, de microdrenagem urbana. Já a inundação, falando de forma geral, seria uma junção desses dois problemas.

Desta forma, é imprescindível para uma cidade prosperar de forma mais adequada que a drenagem urbana possua atenção especial, sempre incluída e levada em consideração no planejamento urbano e territorial, sendo um importantíssimo campo do saneamento básico, provendo saúde, qualidade de vida, proteção ao patrimônio e boas práticas ambientais.